sábado, 2 de julho de 2011

Reclamar é bom

Eu não era assim. Eu era o típico português de come e cala, paga e não bufa. Mas as circunstâncias mudaram-me o feitio e agora ninguém me atura. No espaço de seis meses, já me peguei pelo menos com os CTT, dois bancos, quatro vozes ao telefone, uma concessionária de auto-estrada, um leitor do contador da água, um fabricante de alheiras, uma operadora de telecomunicações, uma editora, seis vendedores porta a porta, um supermercado, mais dois ou três institutos públicos, e tem sido muito bom. Eu agora sou assim.
E estou particularmente à coca com movimentos bancários e portagens. É. Cobrança abusiva de portagens, multas aplicadas por engano, pagamento de custas por serviços não prestados e até cobrança de anuidades gratuitas, tem-me acontecido de tudo. E eu reclamo. E eles devolvem-me a massa. Demoram, mas devolvem.
O que é preciso é estar atento. O mais certo é que eu andasse a ser levado há um ror de anos, mas não dava fé, não ligava. Ouvia dizer que andava meio mundo a roubar o outro meio e achava que era apenas azar estar sempre no lado errado do mundo. Palerma.
Agora estou sempre em cima deles. E, desde que reclamo, sinto-me um homem novo, embora o mercado de trabalho não seja da mesma opinião.
Mas isto é uma guerra. Temos que estar psicologicamente preparados e ter... uma paciência de Job. A táctica deles é milenar, do tempo do Sun Tzu: tentam vencer-nos pelo cansaço. Primeiro, começam por ignorar a nossa reclamação; depois, após mais 15 contactos, dizem que enviaram a reclamação para o departamento competente; depois, após mais 14 contactos, o departamento competente diz que vai analisar a situação; depois, após mais 13 contactos, o departamento competente diz que está a analisar a situação; depois, após mais 12 contactos, o departamento competente diz que o assunto passou para as mãos do coordenador; depois, após mais 11 contactos, informam que, sim senhor, estão finalmente prontos a devolver-nos os tais 5,32 euros. Aqui já se passaram quatro ou cinco meses, mas volta tudo ao princípio: lá temos que explicar outras 66 vezes, com desenhos e tudo, que são 27,76 euros e não 5,32 euros. E, pronto, um belo dia o nosso querido dinheirinho (27,76 euros) lá torna a casa, de onde nunca deveria ter saído. Simples, não é?
A táctica deve resultar com a maioria, porque até departamentos oficiais a usam. Há meses que estou à espera que SIEV (Sistema de Identificação Electrónica de Veículos) e InIR (Instituto de Infra-Estruturas Rodoviárias), dois organismo públicos, me respondam a um par de questões simples, tão simples que quase poderiam ser resolvidas com um sim ou com um não, mas nem sequer se dignam acusar a recepção dos meus e-mails. Um por mês, religiosamente.
Pois que tirem o cavalinho da chuva, de mim não se livram. Não tenho ganho sempre, mas já ganhei muitas vezes. E reclamar desopila.

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