terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Um mecenas para os coelhos

O banqueiro Artur Santos Silva, novo homem-forte da Fundação Gulbenkian, andava ontem no Parque da Cidade do Porto a desmoer os excessos natalícios. Espero que tenha saído de lá como o aço (tendo em conta os seus bem conservados 70) e sobretudo sensibilizado para a questão fundamental que me aflige mas que todos à minha volta pretendem iludir, que é exactamente esta: onde estão os coelhos?
Eu parece-me grave que ninguém queira saber do que aconteceu aos coelhos do Parque da Cidade, que eram às centenas e desapareceram, como que por artes mágicas e negras, duma noite para o dia. Atafulhados em assuntos e iniciativas culturais até às orelhas, o presidente Rui Rio e a Câmara do Porto ignoram olimpicamente as minhas sucessivas e lancinantes denúncias, estimando porventura que este é um assunto de lana-caprina. Mas não é. Lã de cabra é uma coisa, pele de coelho é bem outra. As jotas dos partidos moinantes, sempre atesoadas para agarrarem com ambas as mãos as temáticas fracturantes, têm esta aqui tão jeitosa e dada por mim praticamente de graça, mas viram-me as costas e mandam-me foder. E até o Bloco de Esquerda, amiguinho dos animais como não há, só se preocupa com os coelhos se eles tiverem cornos e forem toureados no Campo Pequeno, em Lisboa. Coelhos grandes, os chamados coelhões!
Havia a hipótese Felícia Cabrita, famosa jornalista de investigação que podia fazer luz sobre o caso. Luz do Sol. Cheguei a pensar que a Cabrita, até por solidariedade onomática, quisesse saber dos coelhos. Mas nada. E o Pedro Passos, o de São Bento, devia também fazer alguma coisa, quanto mais não fosse por uma questão de preservação de linhagem, mas não mexeu nem um dedo. Coelho por coelho, um destes dias é ele quem desaparece e eu ainda me vou rir.
Para mim, houve coelhocídio no Parque, massacre em massa. Ou, o que é mais provável, em arrozada. E eu não descansarei enquanto não souber toda a verdade. O mistério dos coelhos desaparecidos tem que ser resolvido. Artur Santos Silva pode e deve ajudar a resolvê-lo. É esta a minha esperança desde ontem. O que a memória dos coelhos do Parque da Cidade do Porto merece, exige e estava a precisar era mesmo de um mecenas assim à medida do homem do BPI.
Faço aqui o apelo ao novo presidente da Gulbenkian: que vá aos, graças a Deus, fundos sem fundo da fundação e retire de lá uma qualquer-coisinha que dê e sobre para reunir e manter uma equipa multidisciplinar que investigue, estude a esclareça de uma vez por todas e pelo tempo que for preciso, quanto mais tempo melhor, a coelhal problemática. Ande lá, não lhe custa nada, reúna essa gente, senhor doutor! Eu estou de vago, posso ser o primeiro.

4 comentários:

  1. Hernâni
    Hoje mesmo, percorri o Parque Biológico e não vi (vivalma de coelho). Há bastante tempo atrás, eu cheguei a degostar, um ou outro pedaço de coelho, made in Parque Biológico, lá, no respectivo restaurante! Ó diabo, esta não era para dizer, mas pronto, está dito, está dito. Mas de há uns tempos para cá, os bichos, foi um "ar que lhes deu". É a chamada praga dos coelhos. Ter-se-hão salvado pelos menos dois. Um deles, acabadinho de desmamar, anda agora disfarçado de 1º ministro, e, ressabiado, diz que nos vai matar a todos à fome. Já o outro, "coelho velho", continua dependente de tetas, e, ao que consta, arranjou uma bem cheia, lá na Mota-Engil.
    Gaspar de Jesus

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  2. Obrigado, caro Gaspar, pela visita e pelo comentário.

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  3. Caro Hernâni, indignado como vetariano, agradecido por ter vizinhos coelhos, esquilos e até as raposas, admirado com a sua impertinência, deliciado com o seu texto. Desejo-lhe leitores atentos e, embora o Hernâni não precise, envio-a na mesma, «Ever try. Ever fail. No matter. Try again, fail again, fail better.» Bem haja.

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    1. Invejo-lhe a vizinhança, caro amigo. Muito obrigado pela visita e pelo comentário.
      h.

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