quarta-feira, 18 de julho de 2012

Um certo senhor bispo

1. O bispo católico Januário Torgal Ferreira mijou fora do penico. Umas pinguinhas. O homem tem 74 anos anos, acontece. Esparrinhou na forma, mas acertou em cheio no conteúdo.
2. Torgal Ferreira disse o que milhões de portugueses pensam, dizem e escrevem. Eu costumo pensar, dizer e escrever o que ele disse. Sou católico, mas, embora tenha ido aos treinos, não sou bispo. Portanto eu posso.
3. Virgens e talibãs do PSD, sentinelas de serviço na blogosfera, caíram em cima do bispo com quanta força tinham à mão - porque eles também podem. Aceito: é o papel deles como o meu. Higiénico.
4. Já a lapidação ia a meio quando dei fé que os entusiasmados arremessadores de pedras se haviam esquecido de desmentir Torgal Ferreira, coisa de nada. Era matá-lo, porque o homem gosta de umas comezainas e dá-se com perigosos "socialistas". Disso o acusam e só. Começo a temer pela minha própria vida.
5. Mas se é isto que têm para apresentar contra o bispo, que se calhar também bebe uns copos fora das refeições, então os seus acusadores melhor fariam se fossem à merda.
6. Não percebo porque é que Torgal Ferreira não pode dizer o que disse por ser bispo católico. Do género: tudo o que o gajo diz é verdade, mas devia era estar caladinho.
7. Estou farto de bispos sacristas que só dizem amém.
8. A Hierarquia católica portuguesa ficou envergonhada com o que o bispo Torgal Ferreira disse. E desmarcou-se imediatamente. Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal, fez até questão de frisar à rádio Antena 1, com assinalável persistência e deselegância, que isto são apenas "declarações pessoais de um certo senhor bispo", nas quais a Igreja "naturalmente" não se revê.
9. Há coisa de dois mil anos, contam os Evangelhos, um certo Senhor Jesus Cristo chegou a usar a força física para expulsar, a chicote, os vendilhões do templo. Um determinado Senhor Jesus Cristo que não descansou enquanto não fez a folha a escribas e fariseus hipócritas, aos quais chamava raça de víboras e sepulcros branqueados. Que era o que naquele tempo se chamava (e os exegetas não me deixarão mentir) aos malabaristas políticos dos "jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção". Era como se um certo Senhor Jesus Cristo dissesse: "Eu não acredito nestes tipos, em alguns destes tipos, porque são equívocos, porque lutam pelos seus interesses, porque têm o seu gangue, porque têm o seu clube, porque pressionam a comunicação social".
10. Às vezes dá jeito à Hierarquia da Igreja Católica portuguesa fazer doutrina com este Jesus Cristo musculado. Desta vez não.

9 comentários:

  1. Não sou católico. Mas em relação à sua crónica, só posso dizer, e muito seriamente, AMEN!
    Se não leva a mal (e, claro, sem beliscar minimamente as suas convicções, que respeito por que sei que são sérias), acrescento que os «Manuel Morujão» que controlam a igreja católica há muitos, muitos anos, são os responsáveis por milhões de crentes nessa ideologia a terem abandonado. Muitos deles por vergonha.
    M. Flórido

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  2. Ora eu que nunca tive a mínima vocação para Bispo, nem sequer fui aos treinos, porque me dizia que dar uso à pilinha era pecado e outras coisas que tais, dei comigo a pensar, ora aqui está um gajo com eles no sítio...! Ah como gostaria de ter sido eu o entrevistado. Claro que a Corja de corruptos e malfeitores cai-lhe em cima, cuspindo baba e ranho, mas isso deve ser o lado para onde ele dorme melhor! Não só não tiveram coragem para desmentir o homem, como hoje,, o "cavalinho de mancha branca na crina" (vulgo ministro da defesa)veio de mansinho, dizer numa das comissões do Parlamento que o governo vai (finalmente) esta semana, disse e repetiu, limpar o verdete da fechadura e retirar da gaveta os super-congelados acessos às promoções nas carreiras militares...
    Não sei porquê, lembrei-me da canção do Ségio Godinho " estive quase morto no deserto...e o Porto aqui tão perto!
    Ah Grande Senhor Bispo. Tão grande, que não cabe, na servil e manietada igreja portuguesa.

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  3. Inteiramente de acordo...Continuo, porém, sem perceber por que motivo as forças armadas de um país laico têm no seu quadro um bispo católico...

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  4. Ok Hernâni posso concordar contigo, mas ainda bem que o homem lá está, caso contrário, em lugar de baba e ranho, era só sorrisos...
    Gaspar de Jesus

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    1. Amigo Gaspar,
      O anterior comentário não é da minha lavra. É de um leitor, a quem, já agora, agradeço a visita e a opinião.
      h.

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  5. Olá meu Amigo

    Curiosamente também escrevi no meu blogue sobre sete assunto.

    Não sendo, nem por sombras, virgem ou talibã do PSD, antes pelo contrário, não posso deixar de reprovar a atitude do senhor General.
    Não o critico por ele ser bispo da Igreja Católica, religião que há muito deixei de professar.
    Critico-o por ser um dos tais que, como cão ingrato, morde a mão do próprio dono, daquele que lhe dá o bom ordenado e as mordomias correspondentes ao cargo que ocupa, o de Oficial General nas Forças Armadas.
    Mordomias que o meu Amigo, eu e o nosso comum Amigo Gaspar ajudamos a pagar com os nossos impostos.
    Se isto se passasse numa empresa e o trabalhador acusasse, publicamente e sem o provar, o seu patrão de ser corrupto, o que lhe aconteceria? Deixemos isso à imaginação de cada um.

    Por outro lado há limites na linguagem que se devem ter em público. Quem deve dar o exemplo, como é o caso, maior obrigação tem de ser educado.
    O indivído em causa foi malcriado (e hoje continuou a sê-lo no Jornal i), difamou pessoas (porque não apresentou provas do que disse) e, afinal, continua a mamar na teta da vaquinha.

    Sempre lhe digo, meu Amigo, que, se eu mandasse, acabava-lhe com o posto.
    Afinal Portugal é um país laico e nós portugueses não temos que pagar o soldo (e não só) às dezenas de oficiais-capelães que andam pelo nosso exército, marinha, força aérea e GNR.
    Se não há para todas as outras religiões, porque é que a Igreja de Roma há-de ser diferente ?

    Só para terminar, e pedindo desculpa pelo tempo e espaço que lhe roubo, sempre lhe digo que, em minha opinião, a tal Hierarquia católica sempre se portou muito mal quando lavou as mãos como fez Pilatos, dizendo que o seu membro, falou em nome pessoal.
    E parece que os "pilatos" nada mais fazem !!!

    Abraço com admiração
    Jorge

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    1. Muito obrigado, caro Jorge Costa Reis, pela sua opinião. Abraço,
      h.

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  6. Caro Jorge Costa Reis,
    Com todo o respeito que devo a alguém que é amigo de amigos meus, tenho que notar que mergulha distraidamente num equívoco do tamanho da Basílica de São Pedro.
    D. Januário não tem nada de “cão ingrato” (e chamou-lhe malcriado, né?!) que “morde a mão do próprio dono”. Muito simplesmente porque o “dono” de D. Jánuário é o povo, o patrão que lhe paga as “mordomias” são os contribuintes. Na verdade, D. Januário está ao serviço de todos nós, como todos os governantes deviam estar; é nosso funcionário, como os governantes são, embora estrategicamente o esqueçam.
    Portanto, é a nós, ao povo, aos Portugueses, a Portugal, e não aos governantes, ou ao PSD ou ao PS ou aos generais ou aos bispos, que D. Januário deve prestar contas.
    Ao contrário do que afirma, D. Januário cumpriu o seu dever.

    Manuel Almeida

    PS – Um pequeno comentário ao seu “há limites na linguagem que se devem ter em público”. Num momento em que o País desespera por verificar que as pessoas a quem D. Januário se refere roubaram e roubam e continuarão a roubar despudoradamente (sem limites...), não posso deixar de ficar perturbado com essa sua macedónia que mistura a fleuma britânica com os nossos brandos costumes.

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