sábado, 22 de dezembro de 2012

Uma boneca de festas boas

Manhã de sábado, A28, direcção Matosinhos-Viana do Castelo, um pouco antes da saída para Vila do Conde. À minha frente segue uma velha carrinha Renault 4L, de um cor-de-rosa altamente suspeito e vagaroso. Aproximo-me, com o fastio próprio dos condutores domingueiros que já não têm paciência para os condutores domingueiros, mas arrebita-se-me a atenção quando, mesmo em cima dela, leio os dizeres da viatura. São uns dizeres sugestivos e muitos, reclames açucarados a um loja de prazeres - sex-shop em português.
E vejo finalmente os ocupantes, ainda por trás: é o do volante e, ao lado, uma louraça da fazer parar o trânsito. Mas eu avanço. Avanço cuidadosamente para a ultrapassagem, olho para o gajo e o gajo sorri. E eu continuo a olhar (eu posso olhar e continuar a olhar, porque não conduzo, não sei) e o gajo continua a sorrir. A gaja não sorri, não me liga nenhuma, olha sempre em frente, tomando sentido à estrada, ainda mais loura do que há bocado e, reparo agora, tem uns lábios vermelhos e escarrapachados.
A minha mulher desliga o pisca e então é que se me faz luz. A gaja da catrel é uma boneca. Uma boneca mesmo, de plástico, uma boneca insuflável, de carregar pela boca. O gajo olha para mim e sorri cada vez mais, está a gostar da coisa. Não sei onde é que a gaja tem a mão.

Foi há oito dias, palavra de honra. E até vou ver se ela anda por lá hoje.

2 comentários:

  1. Tenho a certeza que o senhor Vilaça terá gostado desta história...

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    1. Tenho mesmo que escrever sobre o grande D. Vilaça, o homem que fez e faz por Paredes de Coura o que Paredes de Coura nunca fez nem nunca fará por ele.
      E a maioria do pessoal que ainda tem dinheiro e come fora, tem dinheiro mas come merda. Qualquer dia o Conselheiro fecha, por falta de uso, e essa gente já não terá tempo de saber o que era bom.

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