domingo, 29 de dezembro de 2013

Augusto Fera

Voz do sangue

Eu sou fuso da mão que fia linho.
Eu sou corda da voz que diz oubisto.
Eu sou roupa de ver a Jasus Cristo.
Eu sou malga de sopas de bô binho.

Danço o vira que espana todo o Minho.
Amo a tia que talha do ar ao quisto.
Bufo ao resto de cântaro com misto
De ervas e sal ardendo em chão maninho.

Eu mesmo acendo rama de oliveira
Quando Jesus me ralha no trovão
Que sobre as minhas telhas tumultua.

Se eu for a sepultar na Cumieira,
Gostava que descessem o caixão
Até ficar mesmo ao nível da rua.

"Cruz de Chumbo e Outros Poemas", Augusto Fera

(Augusto Ferreira, que usava o pseudónimo literário de Augusto Fera, nasceu no dia 29 de Dezembro de 1939. Morreu em 2012.)

2 comentários:

  1. Que bom encontrar aqui o ceguinho que trabalhava na Fábrica do Ferro, Nane! Já li alguns poemas dele...
    Beijinho e Bom Ano Novo!

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