terça-feira, 11 de novembro de 2014

Euclides Neto

Os fugitivos atravessaram o aceiro, entraram na mata fechada e ganharam a vereda. As perninhas bambas eram impelidas pelo medo. Desde há muito que acostumaram a esconder-se. Já viviam de ouvidos atentos. As duas meninas traziam vestidinhos puídos e os meninos estavam completamente nus.
Notaram que o gerente ia perto. As pernas esquálidas correram mais. O menor tropeçou numa raiz, caiu, mas, sem choro, levantou-se, para cair novamente, Zilda, a mais velha, voltou-se, apanhou o irmão e enganchou-o. As pisadas fortes das botas aumentavam e como que esmagavam o próprio chão. O homem vinha mesmo. Certamente não faltava nem um palmo... Adiante, Zilda alcançou os irmãos.
- Corre... vem aí.
Começaram a descer a ladeira e ganharam terreno. Se não fosse os tocos e espinhos do arrasto poderiam avançar mais. Senhor Antônio já tinha certeza que na frente ia alguém. Os rastros miúdos ficavam nas barrocas da lama. Palavras soltas de menino chegavam aos seus ouvidos.
- Li... gei... ro.

"Os Magros", Euclides Neto

(Euclides Neto nasceu no dia 11 de Novembro de 1925. Morreu em 2000.)

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