terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Filinto Elísio 2

Uns lindos olhos, vivos, bem rasgados,
Um garbo senhoril, nevada alvura;
Metal de voz que enleva de doçura,
Dentes de aljôfar, em rubi cravados:

Fios de ouro, que enredam meus cuidados,

Alvo peito, que cega de candura;
Mil prendas; e (o que é mais que formosura)
Uma graça, que rouba mil agrados.

Mil extremos de preço mais subido

Encerra a linda Márcia, a quem of'reço
Um culto, que nem dela inda é sabido:

Tão pouco de mim julgo que a mereço,

Que enojá-la não quero de atrevido
Co'as penas, que por ela em vão padeço.

"Sonetos", Filinto Elísio

(Filinto Elísio nasceu no dia 23 de Dezembro de 1734. Morreu em 1819.)

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