domingo, 6 de março de 2016

Para ser bom, o futebol deve ser visto na Antena 1

Comecei a ver o Sporting-Benfica de ontem na cozinha, ouvindo o relato na rádio Antena 1. Estava a ser um derby de arromba, bola cá, bola lá, quase-golos uns atrás dos outros, os relatadores esganiçados com tanta emoção, faltava-lhes o ar, que jogatana, que jogatana! Fui a correr para a sala e liguei a televisão, para ver com os meus próprios olhos: o jogo era fraquinho, não havia dois passes seguidos certos, os do Benfica entregavam a bola aos do Sporting e os do Sporting, porventura por civilidade anfitriã, entregavam a bola aos do Benfica, política de boa vizinhança, ao contrário do que nos querem fazer crer. Entre estas cortesias a meio campo, e sempre e ainda no dito miolo do terreno, sarrafava-se a bom sarrafar, mas dentro do protocolo estabelecido. Que merda! Voltei, desiludido, para a cozinha, liguei outra vez o rádio: o prélio tornou a ser uma categoria, um frémito, um frenesim, só não era golo porque não calhava. Eram defesas impossíveis, eram perdidas inacreditáveis, só se jogava nas áreas. Fiquei-me portanto pelos 96.7, que até podia ter sido o resultado final, tantas as oportunidades radiofónicas, e regalei-me. Que jogaço, que jogaço! Esqueçam a televisão por cabo, que nos custa os olhos da cara e só nos dá espectáculos deprimentes. O futebol, para ser bom, deve ser visto na rádio Antena 1. É mentira, mas sabe bem.

Eu sou pela Antena 1 desde pequenino, ainda a Antena 1 se chamava Emissora Nacional e dava os resultados da 3.ª divisão e dos distritais já pela noite dentro e era uma comoção tremenda ouvir dizer Fafe, Associação Desportiva de Fafe, no Philips da mesinha de cabeceira dos meus pais. Ficávamos ali todos à espera, a família, como se estivéssemos a rezar o terço mas de boca calada, angustiados e alerta, porque aquilo era dito uma só vez, como no "Alô, Alô", e com a rapidez do "não dispensa a consulta do prospecto". Vamos supor: o jogo do Fafe tinha sido em Arcos de Valdevez, que naquela altura era muito longe e não havia telemóveis (eu sei que é difícil de acreditar); se não fosse o rádio, só saberíamos o resultado a altas horas, se tivéssemos vagar para isso, quando a excursão regressasse ao Largo, e não era certo. O resultado. Porque o vinho também é bom, mas às vezes atrapalhava as contas...

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