segunda-feira, 16 de maio de 2016

Até o Senhor de Matosinhos perde com o Benfica

                                                                                                                  Foto Hernâni Von Doellinger

A Procissão do Senhor de Matosinhos saiu à rua e veio sozinha. Tirando quem lá vinha por obrigação e não por devoção, quero dizer, os oficiais do ofício, a fanfarra dos bombeiros, os escuteiros, as duas bandas de música, duas, os confrades das confrarias, os pegantes e ajudantes dos pegantes dos andores, estandartes, cruzes e pálio, o clero indispensável e as chamadas autoridades locais, contei eu exactamente contados 173 fiéis no fim do cortejo, e digo bem: fiéis. A ver, meia dúzia de gatos pingados na rua, nas janelas e nas varandas, eu incluído.
Há anos que a Procissão do Senhor de Matosinhos não é grande coisa. Se os matosinhenses crentes alguma vez passassem os olhos, por exemplo, pela procissão da Senhora de Antime, em Fafe, decerto que sujariam as faces com excrementos, que é uma expressão quase bíblica para significar, sem ofensa, que se encheriam de vergonha.
Mas é isto: há muito que o Senhor de Matosinhos deixou de ser uma festa religiosa. Há muito que o Senhor de Matosinhos da cruz foi comido pelo Senhor de Matosinhos das farturas. E dos eventos culturais, como agora se diz. O Senhor de Matosinhos é uma marca turística. E eu não critico, tomo apenas nota. De resto, percebo muito bem o fracasso maior da procissão de ontem, questão de concorrência. À mesma hora, na televisão, jogava o Benfica à confiança para depois fazer a festa no Marquês. E o Benfica não é uma religião?...

Por outro lado. Erwin Sánchez, treinador do Boavista, foi (ou está indo) a pé a Fátima para agradecer a Nossa Senhora a manutenção da equipa do Bessa na primeira divisão. Petit, treinador do Tondela depois de ter sido despedido do Boavista, também meteu os pés ao caminho para agradecer à Virgem a manutenção da sua segunda equipa na primeira divisão. Ora bem: respeitando a ideia de cada qual, eu, que até vou amiúde a Fátima (de carro, levam-me), sinceramente não acredito que a Mãe de Deus se meta nestas coisas do futebol e desperdice milagres em golos, frangos e offsides, ainda por cima numa época tão cheia de trafulhices, o que lhe poderia trazer má fama e eventualmente problemas com a justiça. Já quanto ao Euromilhões, sim, isso está provado.

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