domingo, 7 de agosto de 2016

O mal dos incêndios dominados é que não gostam

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. É uma questão sexual e de orgulho macho. E então continuam a arder lampeiramente uma semana depois de terem sido decretados dominados aos microfones da RTP, da SIC, da TVI, da CMTV, da NGTY, da ÇKLI e da rádio COISA. Os oficiais da Protecção Civil, que são umas pessoas muito honradas e de boina, que nunca puseram os pés num incêndio, tiraram um curso relâmpago de Teatro de Operações, Meios Aéreos & Pontos de Ignição e gostam de dar na televisão, o mais que dizem é que os incêndios de manhã, se não estão já dominados, vão entregar-se às autoridades a meio da tarde.
Os bombeiros estão lá no centro do vulcão a derreter, mas a eles agora ninguém lhes pergunta nada. E ainda bem, porque lá faz muito calor e o calor dilata os copos. O senhor da boina no camião de Fórmula 1 com ar condicionado é que sabe, e bebe águas das pedras. Geladas.

O mal dos incêndios dominados é que não gostam que lhes chamem isso: dominados. Freud explicaria isto muito bem, mas eu, de momento, não o tenho à mão e perdi-lhe o número do telemóvel. Por outro lado, os incêndios estão desgostosos por lhes terem trocado o nome. Chamavam-se fogos antigamente e eram para apagar. Exactamente, fogos. E para apagar. Velhos tempos, coisas simples: Portugal ardia menos e não havia teatro... de operações.

P.S. - Minúsculo esclarecimento, provavelmente desnecessário: Teatro de Operações, vulgo TO.

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