sábado, 15 de outubro de 2016

Alcides Maia

Pois, o bugre velho, meu avô, deu ela a meu pai quando deixou de gauderiar e se parou nos fogões. Não disse nada, nem percisava, que aquela já se sabia donde vinha vindo... E, a’ora, arrepare no que assucedeu. Meu pai, moço, des’que atravessou a adaga na cinta, mudou de jeito, deu pra rixento, largou a se traguear, e, de folgozão que era, andava que nem carancho em tonqueira. Mas a morte, caramba! lo respeitava! Não havia bala, nem golpe, nem veneno pra ele. Os arroios podiam estar pelos galhos, que, vestido mesmo, bandeava serenito a correnteza; e, pousasse no mato, sem fogo, ou estendesse o poncho em meio o campo, dormia no mais à vontade que nem onça, nem jararaca se achegavam. Inté o raio afrontava, que uma tarde, já à boca da noite, em viagem, caiu-lhe um quase em riba, lascou o umbu onde se abrigava, matou o cavalo a meio tiro de laço e ele, nem nada. Inda, mode o pingo, de estimação, olhou de frente o céu, com uma praga, e acendeu no mais o pito, sem tremor. No jogo, enquanto ia orelhando a sota, a faca estava fincada no chão, se era acampamento haragano, ou em cima da carpeta nas vendas. E os patacões vinham vindo, e as gateadas iam-se amontoando. Cuê-pucha, se não varejasse longe o ganho, se parava um rei de tanta plata! Mas perdia tudo com as chinas, pelas vendas e em carreiras, pois já se sabia que a arma le dava liga e era lei de parada não estar com ela que, estando, ganhava na certa.

"Alma Bárbara", Alcides Maia

(Alcides Maia nasceu no dia 15 de Outubro de 1878. Morreu em 1944.)

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