sábado, 8 de outubro de 2016

Catulo da Paixão Cearense

A flor do maracujá

Encontrando-me com um sertanejo
Perto de um pé de maracujá,
Eu lhe perguntei:
Diga-me, caro sertanejo,
Porque razão nasce roxa
A flor do maracujá?

Ah, pois então eu lhes conto
A estória que ouvi contá,
A razão proque nasce roxa
A frô do maracujá.

Maracujá já foi branco,
Eu posso inté lhe ajurá,
Mais branco qui a caridadi,
Mais branco do que o luá.

Quando as frô brotava nele,
Lá pros cunfim do sertão,
Maracujá parecia
Um ninho de argodão.

Mais um dia, há muito tempo,
Num meis que inté num mi alembro,
Si foi maio, si foi junho,
Si foi janeiro ou dezembro,

Nosso sinhô Jesus Cristo
Foi condenado a morrê
Numa cruis crucificado,
Longe daqui como o quê.

Pregaro o cristo a martelo,
E ao vê tamanha crueza,
A natureza inteirinha
Pois-se a chorá di tristeza.

Chorava us campu,
As foia, as ribeira,
Sabiá tamém chorava
Nos gaio da laranjera.

E havia junto da cruis
Um pé de maracujá
Carregadinho de frô
Aos pé de nosso sinhô.

I o sangui de Jesus Cristo,
Sangui pisado de dô,
Nus pé du maracujá,
Tingia todas as frô.

Eis aqui, seu moço,
A estória que ouvi contá,
A razão proque nasce roxa
A frô do maracujá.

Catulo da Paixão Cearense

(Catulo da Paixão Cearense nasceu no dia 8 de Outubro de 1863. Morreu em 1946.)

Sem comentários:

Enviar um comentário