segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Domingos Borges de Barros

O beijo

Não há quem dizer-me possa
Qual o sabor de teus beijos;
Se houvesse, a inveja matara
Meus frenéticos desejos.

E se um beijo de Marília
Já me fez esmorecer,
Como provarei teu beijo,
Sem que me sinta morrer?!


Mas se teu beijo é gostoso,
Como certifica amor,
Expire a vida no beijo,
Deixando na alma o sabor. 

Nunca pedi um beijo;
Pedido, que gosto tem?
Do amor o que não é dado,
É frio, não sabe bem. 


O coração leve aos olhos
A expressão do desejo;
Os lábios aos lábios levem
Toda a delícia do beijo. 


É nessa muda linguagem
De inteligência amorosa,
Que de amor vive escondida
A parte mais saborosa. 


Esconder o que mais quero,
Fora enganar mesmo a mim;
Se eu te pedir beijo oculto,
Nunca me digas que sim. 

O beijo, dado escondido,
Desacredita a que o dá;
E se é doce ao que recebe,
É uma doçura má. 


Se o beijo é sinal de paz,
Como pode ser de amor?
Amar é vier em guerra,
Entre delírios e dor. 


O que puder, em teus lábios,
O beijo saborear,
Contra amor, e a sorte peca,
Se a mais quiser aspirar. 


Não há quem dizer-me possa
Qual o sabor de teus beijos;
Se houvesse, a inveja matara
Meus frenéticos desejos. 


E se um beijo de Marília
Já me fez esmorecer,
Como provarei teu beijo,
Sem que me sinta morrer?!


Mas se teu beijo é gostoso,
Como certifica amor,
Expire a vida no beijo,
Deixando na alma o sabor. 

Nunca pedi um beijo;
Pedido, que gosto tem?
Do amor o que não é dado,
É frio, não sabe bem. 


O coração leve aos olhos
A expressão do desejo;
Os lábios aos lábios levem
Toda a delícia do beijo. 


É nessa muda linguagem
De inteligência amorosa,
Que de amor vive escondida
A parte mais saborosa. 


Esconder o que mais quero,
Fora enganar mesmo a mim;
Se eu te pedir beijo oculto,
Nunca me digas que sim. 


O beijo, dado escondido,
Desacredita a que o dá;
E se é doce ao que recebe,
É uma doçura má. 


Se o beijo é sinal de paz,
Como pode ser de amor?
Amar é vier em guerra,
Entre delírios e dor. 


O que puder, em teus lábios,
O beijo saborear,
Contra amor, e a sorte peca,
Se a mais quiser aspirar. 


O beijo, dado escondido,
Toma do crime a feição;
Pode fartar o desejo,
Mas não farta o coração. 


Beijo, que deixa remorso,
É veneno em taça de ouro;
É na pureza do amor
Deixar cair um desdouro. 


Amor é franco; e se afeta
Gostar do misterioso,
São diáfanos mistérios
Velando o mais deleitoso. 


Não são disfarces de Venus,
Nem seu modo encantador,
O que ao puro amor contenta;
É a delícia de amor. 


Consulta teu coração;
Se ele pode amar assim,
Sou todo teu. Se não pode,
Não queiras nada de mim.


Domingos Borges de Barros

(Domingos Borges de Barros nasceu no dia 10 de Outubro de 1780. Morreu em 1855.)

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