sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Comi 21 gafanhotos vivos quando fiz 21 anos

Quando fiz 21 anos comi 21 gafanhotos vivos. Obrigaram-me. E não me queixo, embora tenha sido uma canseira andar a apanhá-los um a um no mato, eles aos saltos e eu de cócoras, um sol do caraças, a risota do maralhal, o corpo moído, uma sede que eu sei lá, mas antes isso do que passar o dia inteiro a levar pancada. O dia e a noite. Por outro lado, apesar de ter comido 21 gafanhotos vivos quando fiz 21 anos, passei aqueles dias todos a levar pancada. Aqueles dias e aquelas noites.

Outro assunto: o caso dos dois alunos do 127.º curso de Comandos que morreram em Setembro e agora a detenção de sete instrutores, alegados responsáveis pela tragédia. O Ministério Público (MP) diz que os militares suspeitos se moveram "por ódio patológico, irracional contra os instruendos, que consideram inferiores por ainda não fazerem parte do Grupo de Comandos, cuja supremacia apregoam". Ferreira Fernandes, o meu cronista-mor, honesto e atento como sempre, dizia hoje no DN que isto é "Freud a mais".
Mas, com todo o respeito, não é. Quero dizer, é verdade que estamos a falar de bodes expiatórios, porque a culpa não é destes comandos de caixa baixa, eles limitam-se a fazer o que os Comandos de caixa alta mandam há pelo menos quarenta anos. Os Comandos, se os querem, são assim. Mas que são umas bestas, são. Porque o caderno de encargos para se ser instrutor, espécie de código secreto que passa de incorporação em incorporação, exige realmente, como bem disse o MP ou por outras palavras, o tal "ódio patológico, irracional contra os instruendos, que consideram inferiores por ainda não fazerem parte do Grupo de Comandos, cuja supremacia apregoam". Isso e baba nos cantos da boca quando batem.

Quanto aos gafanhotos, temperados e fritos talvez marchassem melhor. E depois um golinho de água...

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