sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Eça de Queirós 4

Começou por me dizer que o seu caso era simples - e que se chamava Macário...
Devo contar que conheci este homem numa estalagem do Minho. Era alto e grosso: tinha uma calva larga, luzidia e lisa, com repas brancas que se lhe eriçavam em redor: e os seus olhos pretos, com a pele em roda engelhada e amarelada, e olheiras papudas, tinham uma singular clareza e rectidão - por trás dos seus óculos redondos com aros de tartaruga. Tinha a barba rapada, o queixo saliente e resoluto. Trazia uma gravata de cetim negro apertada por trás com uma fivela; um casaco comprido cor de pinhão, com as mangas estreitas e justas e canhões de veludilho. E pela longa abertura do seu colete de seda, onde reluzia um grilhão antigo, saíam as pregas moles de uma camisa bordada.
Era isto em Setembro: já as noites vinham mais cedo, com uma friagem fina e seca e uma escuridão aparatosa. Eu tinha descido da diligência, fatigado, esfomeado, tiritando, num cobrejão de listas escarlates.

"Singularidades de Uma Rapariga Loura", Eça de Queirós

(Eça de Queirós nasceu no dia 25 de Novembro de 1845. Morreu em 1900.)

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