sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Filinto Elísio 4

Ode à Esperança

Vem, vem, doce Esperança, único alívio
Desta alma lastimada;
Mostra, na coroa, a flor da amendoeira,
Que ao lavrador previsto
Da Primavera próxima dá novas. 

Vem, vem, doce Esperança, tu que animas
Na escravidão pesada
O aflito prisioneiro: por ti canta,
Condenado ao trabalho,
Ao som da braga, que nos pés lhe soa, 

Por ti veleja o pano da tormenta
O marcante afouto:
No mar largo, ao saudoso passageiro
(Da esposa e dos filhinhos),
Tu lhe pintas a terra pelas nuvens. 

Tu consolas no leito o lasso enfermo,
Com os ares da melhora,
Tu dás vivos clarões ao moribundo,
Nos já vidrados olhos,
Dos horizontes da celeste pátria. 

Eu já fui de teus dons também mimoso;
A vida largos anos
Rebatida entre acerbos infortúnios
A sustentei robusta
Com os pomos de teus vergéis viçosos. 

Mas agora, que Márcia vive ausente;
Que não me alenta esquiva
Com o brando mimo dum de seus agrados,
Que farei infelice,
Se tu, meiga Esperança, não me acodes? 

Ai! que um de seus agrados é mais doce
Que o néctar saboroso;
É mais doce que os beijos requintados
Da namorada Vénus,
A que o Grego põe preço tão subido. 

Vem, vem, doce Esperança, que eu prometo
Ornar os teus altares
Com a viçosa verbena, que te agrada,
Com a linda flor, que agora
Enfeita os troncos, que te são sagrados.

"Odes", Filinto Elísio

(Filinto Elísio nasceu no dia 23 de Dezembro de 1734. Morreu em 1819.)

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