terça-feira, 10 de janeiro de 2017

José Américo de Almeida 4

- Qual o quê! O senhor encruou... Se duvidar, com esse calibre é capaz de passar a perna em seu Lúcio.
A mata fronteira, o padrão majestoso, estava acesa numa cor de incêndio.
Havia uma semana, surdira um toque estranho na monotonia da verdura. Dir-se-ia um ramo amarelido à torreira da estação.
Dominava ainda a esmeralda tropical. Mas, com pouco, emergia o mesmo matiz em outro trecho vizinho, como um efeito de luz, um beijo fulgurante do sol em árvore favorita. E, logo, o pau-d’arco assoberbou a flora, como um banho de ouro na folhagem.
Nessa manhã luminosa a mata resplandecia com uma orgia de desabrocho em sua pompa auriverde.
Sem a percepção da paisagem, com a sensibilidade obtusa e entorpecida aos primores da natureza, Dagoberto inquietava-se, pela primeira vez, perante o ouro que frondejava. Parecia-lhe que o sol tinha baixado sobre a selva fulva.
Era, talvez, a cor que lhe suscitara o interesse chambão. As pétalas áureas...
E semicerrou, novamente, os olhos descuriosos.

"A Bagaceira", José Américo de Almeida

(José Américo de Almeida nasceu no dia 10 de Janeiro de 1887. Morreu em 1980.)

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