sábado, 18 de março de 2017

Ciro Costa

Mãe preta

Lúgubre, acaçapada, espiando no ermo, à beira
do açude da fazenda, a lua de opala,
com sussurros de reza ou rumores de feira,
via-se, num quadrado, a sordida senzala…

Sobre um velho jirau forrado de uma esteira,
ei-la, embalando ao colo - e com que amor na fala! -
o sinhozinho branco, a quem se dava, inteira,
até que, adulto, fosse, um dia, vergastá-la!

Sofre como ninguém! Com fervor nunca visto,
persignava-se ao ver céus azuis e montanhas:
Louvado seja Deus Nosso Sinhô - Suns Christo!

Na escravidão do amor, a criar filhos alheios,
rasgou, qual pelicano, as maternais entranhas,
e deu, à Pátria Livre, em holocausto, os seios!

Ciro Costa

(Ciro Costa nasceu no dia 18 de Março de 1879. Morreu em 1937.)

Sem comentários:

Enviar um comentário