Tardes
Quando a tarde vem vindo e o crepúsculo desce
como uma ampla asa, e atrista os horizontes quedos,
eu creio ouvir, pelo ar, turturinos de prece,
uns murmúrios de amor, um frufruar de segredos.
Um sino badalando, aos poucos, esmorece;
a tristeza do bronze acorda na alma medos,
e a alma sente frio - um frio que parece
vir o pólo da morte, através de degredos.
Há também tardes na alma. Há mudez. Crepuscula.
O sino da saudade acorda e abre o passado
- livro que se fechou, sonho que não arrula.
E ansiamos reviver as esperanças mortas!
E ansiamos reentrar nesse templo doirado!
E - ai de nós! - um nevoeiro esconde-nos as portas...
"Poesias", Narciso Araújo
(Narciso Araújo nasceu no dia 6 de Agosto de 1877. Morreu em 1944.)
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