quarta-feira, 21 de março de 2018

Bruno de Menezes 2

Pai João

Pai João sonolento bambo na pachorra da idade
cisma tempo de ontem.
De olhos vendo o passado recorda o veterano
a vida brasileira que ele viu e gozou e viveu!

Mãe Maria contou que o pai dele era escravo... 

Moleque sagica e teso, destro e afoito num rolo,
Pai João teve fama da capoeira e navalhista.

- Eita!... era o pé comendo,
quando a banda marcial saía à rua,
com tanto soldado de calça encarnada.

E rabo-de-arraia, cabeçada na polícia,
xadrez, desordens, furdunço no cortiço
e o ronco e o retumbo do zonzo som molengo do carimbó.

"Juvená
Juvená!
Arrebate
esta faca
Juvená!
Arrebate
esta faca
Juvená!"

De amores... uma anágua de renda engomada,
um cabeção pulando nos bicos duns peitos,
umas sandálias brancas bem na pontinha dum pé.

E o rebolo bolinante dos quartos roliços da Chica Cheirosa...
E a guerra do Paraguai! Recrutamento!
Gurjão! Osório! Duque de Caxias!
Itororó! Tuiutí! Laguna!

E não sabia nem o que era monarquia!

... Agora, sonolento o bambo,
tendo em capuchos a trunfa,
Pai João ao recordar a vida brasileira,
que ele viu e gostou e viveu,
diz do Brasil de ontem:
Ah! Meu tempo!...

"Batuque", Bruno de Menezes

(Bruno de Menezes nasceu no dia 21 de Março de 1893. Morreu em 1963.)

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